O Progresso em Análise
- Paulo Russo

- 8 de jun. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de set. de 2021
Alguns analisandos costumam, principalmente no início de um processo analítico, reclamarem que não estão vendo progresso no tratamento, que não vem mudanças ou avanço de uma sessão a outra. Dizem que não sabem o que dizer, que o analista não fala nada, não dá um conselho ou algum direcionamento.
Este discurso tem sua relevância na medida em que coloca em cena uma posição do sujeito frente a posição do analista.
Lacan em sua teoria afirma que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, e é o significante, a palavra (signo linguístico) e seu respectivo significado, o detentor do verdadeiro sentido para o sujeito. Podemos dizer que o conjunto de significantes definem o sujeito do inconsciente.
Esta maneira de ver o sujeito (do inconsciente) como efeito da articulação significante, levou Lacan a formular a teoria dos quatro discursos, introduzida no seminário XVII, e que de maneira bem simplista pensa um discurso como sendo a posição social que o sujeito se inscreve no campo do Outro.
Para efeito deste texto iremos falar de apenas um, o discurso do Mestre, chamado de o discurso do domínio, do poder, da ilusão.
Neste discurso o Mestre detém um poder, um saber, saber este patenteado, oficial e reconhecido, é o discurso da política, da religião, da medicina, da ciência, onde o sujeito se cala a espera de uma resposta vinda do Mestre. Não há produção de saber por parte do sujeito, e sim uma ilusão de aprendizado, uma sugestão, uma receita, e aqui também se incluem as abordagens comportamentais da psicologia onde a sugestão de faz presente.
Pensando no processo analítico, a pergunta é; onde se encontra o saber? Este saber que dá sentido ao sujeito, que explica suas razões, suas dores e sofrimentos, seus sintomas, enfim, toda a sua história. Está justamente naquela região tão secretamente escondida e protegida, nosso inconsciente, formado a partir de nossos traumas, daquilo que foi insuportável e precisou, por uma defesa, ser recalcado, formando por assim dizer nossa verdade.
Análise é um processo de escuta, escuta do sujeito do inconsciente, e se dá através da única regra da psicanálise; falar tão somente o que vem à cabeça, sem censuras ou julgamentos, mesmo se o que vier, aparentemente não faça sentido algum.
Muitas vezes queremos chegar na sessão com um assunto pronto, um relato da semana, preencher o tempo com algo de nosso consciente, talvez agradar ao analista e assim obter dele um diagnóstico, uma explicação, uma receita do que e como fazer ou agir diante de determinadas situações, e aí teremos uma sensação de progresso, uma ideia de justificação de nosso tempo e dinheiro posto ali, enfim, o discurso do Mestre.
Se trata de um processo difícil, muitos afetos aparecem diante da negativa do analista em responder a este discurso, o silencio pode parecer insuportável, mas é no manejo da transferência, fenômeno este que ocorre na relação analisando-analista, que o desejo do sujeito se faz presente e se abre a possibilidade de se entrar de fato em análise, e quando se entra em análise, a pessoa passa a se escutar, o saber antes desconhecido aparece e é reconhecido, associações vem à tona, significantes são identificados, dores são nominadas e apropriadas através da palavra (simbolizada) e sintomas podem ser reduzidos ou até mesmo eliminados. A pessoa começa a saber aquilo que ela incialmente pensava que não sabia.
A partir daí acontece o que Freud descreveu como o processo de lembrar, repetir e elaborar, e em Lacan como tempo de ver, tempo de compreender, e tempo de concluir.
Infelizmente, por diversos fatores, há pessoas que dificilmente conseguem entrar em análise, ficam sempre a falar sem nunca de fato escutar, querem outra coisa do processo, do analista, deste Outro imaginário, se acostumaram tanto com seus sintomas que não querem perder seu gozo associado. Por isso dizemos que o tempo de uma análise não é cronológico, mas sim lógico, é o tempo do nosso inconsciente, e sobre este tempo, previsão ou controle algum é possível.
O que determinaria ou ajudaria então a entrada em análise? Eu diria que parte da resposta está na força da transferência estabelecida e no seu manejo por parte do analista, feito através de suas intervenções, interpretações e cortes. E como sabemos que uma análise está sendo bem-sucedida? Difícil resposta, mas penso que começar a (re)conhecer e compreender os nossos desejos seja um belo início.





Comentários